segunda-feira, 18 de abril de 2011

Barbáries plurais e singulares

Vincent Van Gogh
O Escolar (O Filho do Carteiro - Gamin au Képi)


A intensidade da bárbarie no Realengo não me permitiu, de imediato, postar algo sobre o ocorrido. Corria o risco de banalizar o problema, como de resto, é o que ocorre na grande imprensa. A singularidade e intensidade da tragédia serve ao sensacionalismo do mercado e esse à ocultação dos problemas estruturais que caracterizam a escola pública brasileira. De qualquer forma, melhor fazê-lo agora, quando as aulas retornam à Escola municipal Tasso da Siveira, retorno esse que é a melhor forma de homenagear a memória das crianças que perdemos.
Mas, se de resto, o caso da escola carioca apresenta especificidades por conta da sua brutalidade, não menos verdade que a violência verbal e física, em maior escala, tornou-se generalizada nas escolas públicas brasileiras
A questão da violência escolar está intimamente relacionada à qualidade do ensino que se oferta. Uma escola pobre, que desvaloriza seus profissionais, sem laboratórios, sem bibliotecas, sem professores, sem funcionários, sem assistentes sociais, sem psicólogos, sem gestão democrática, sem currículos que tenham a ver com o mundo real, entre outras ausências, não pode ser um ambiente que resista a violência presente no conjunto da sociedade.
Uma escola diferente desta que aí está demanda recursos e nisso reside, na essência, a divergência de projetos para a educação pública. Câmaras de filmagem , revisão do Estatuto da criança e do adolescente são medidas, entre outras propostas mágicas, mais baratas para manutenção de uma escola pobre para a classe trabalhadora e que setores conservadores voltam a tirar da cartola num momento como esse.
Que o caso de Realengo tem sua singularidade, é fato,e não deve servir para que nós nos esquivemos do debate de fundo, qual seja,de que não podemos admitir mais uma escola pobre e excludente para a maior parte da população brasileira, nossa bárbarie plurarizada.

Um comentário:

  1. Lamentável e esperado o uso da tragédia como espetáculo. Entretanto, mesmo a escola que os trabalhadores merecem não irá anular o fato de que o espaço escolar, tal qual conhecemos, criação do capitalismo nascente, é aparelho de dominio do Poder Burguês, é espaço do fazer e não do pensar, logo espaço repetidor da mediocridade. Qto aos loucos e as tragédias estas sempre acontecerão. A própria vida é uma tragédia..

    Samuel Firmo

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