sábado, 23 de abril de 2011

As primaveras de Portugal


Enquanto visitamos mais um outono pelas bandas de cá, o povo do norte reencontra a primavera. Sim, não invertamos a ordem da coisas. Nós passamos,  as estações permanecem.
Estava a pensar sobre isso quando Isabel Heitor me lembra, pela rede social, que segunda feira, 25 de Abril, celebram-se  37 anos da vitória do povo português sobre a escuridão com a qual Salazar cobriu a terra de Pessoa. Postou Grândola, Vila Morena, hino da revolução dos Cravos. Também o faço aqui. Sublime e necessária lembrança:  tinha que ser na primavera.
Estranha coincidência, se é que é possível haver acasos inteligíveis, esta lembrança ocorrer enquanto me dedico à leitura de "A jangada de pedra", obra de Saramago, outro humano singular nascido nas terras do Tejo. O metafórico desprendimento da Penísula Ibérica, após imensas rupturas tectônicas nos Pirineus, e sua transformação em  imensa nave rochosa lançada à deriva pelo Atlântico é o fio condutor desse romance,  que se desenvolve abordando aspectos da língua, arte e  cultura constituídas naquela parte do globo.
Livro escrito em circustâncias de intensos debates políticos e econômicos e que resultaram na unificação européia, ja prenunciava a configuração geopolítica amplificadora da centralização do poder mundial por parte das chamadas potências ocidentais.
Nesse momento em que Portugal enfrenta uma brutal crise econômica, produzida pela submissão às políticas ditas neoliberais, a recordação da Revolução dos Cravos e a (re) leitura desta obra são imperativos. A grandeza do povo português, expressa na sua história e na sua cultura, não deve submeter-se à ingerência das agências internacionais , insistentes em pregar receitas para os outros, mas que sequer ousam opinar sobre a crise que se estabeleceu nos países do centro do sistema os quais elas representam.

Um comentário:

  1. As lutas legítimas contra as forças conservadoras que buscam confiscar liberdades individuais em uma tentativa clara de subjugar passivamente aqueles a quem o Estado devia servir, são dignas de História e Memória! Nosso papel enquanto historiadores e geógrafos é não permitir que as mídias afetadas continuem contribuindo para consolidar eternamente o Silêncio dos Vencidos.

    Abraços companheiro!

    coletivojovem.wordpress.com

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