Quizumba : animal que revolve tudo em busca de alimentos, confusão. É disso que se trata este espaço. Revolver em busca da reflexão que, como o alimento, é imprescindível para a vida. Embaralhar e, em meio a confusão, colher o pensamento ou, como diria Chico Buarque, ir às "ruas e beber a tempestade".
quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
A gente não quer só comida
As ausências de um plano estadual e de financiamento adequado são as causas estruturais do fracasso da política educacional levada a efeito, no estado de São Paulo, nos últimos 20 anos. A visão determinante de que o papel do Estado deve ser reduzido é a filosofia política que cegou os sucessivos governos estaduais e que resultou num dos maiores genocídios culturais a que a história tem notícia. Se imaginarmos que os adolescentes que hoje concluem o ensino médio em São Paulo são aquelas crianças que ingressarram nos primórdios da implementação das políticas tucanas, teremos idéia da barbárie cometida.
A municipalização do ensino de 1º à 4º série contribuindo para a fragmentação de educação paulista, o foco no ensino fundamental em detrimento dos outros níveis e modalidades, a desvalorização dos trabalhadores em educação, a criação de premiações em prejuízo da universalização da qualidade, entre outras medidas, são ações que apresentam continuidade, governo após governo, secretários após secretários.
A afirmação dos professores do Estado de São Paulo de que a progressão continuada nunca foi implantada por aqui, reconhece que seriação e repetência não são soluções para o enfrentamento dos problemas de aprendizagem dos estudantes paulistas, tampouco a promoção automática que se estabeleceu na rede pública estadual. A ausência de condições de trabalho adequadas, laboratórios, bibliotecas, jornadas maiores para os estudantes, matrizes curriculares mais flexíveis e amplas, situações institucionais para implantação de diferentes tipos de recuperação (intensiva, contínua, paralela), transformaram uma bandeira progressista numa máquina de produção da ignorância.
Infelizmente, os implementadores dessa política, cientes das consequências que daí resultam, complementam sua ação com uma batalha ideológica que objetiva responsabilizar as vítimas. Ora são os estudantes, na sua grande maioria oriundos das classes populares, que ao ingressarem na rede, rebaixam o rendimento do sistema, ora (e, atualmente, na maioria das vezes) são os trabalhadores em educação, irresponsáveis que não possuiriam compromisso com a causa pedagógica.
De fato, com esta causa pedagógica que prescreve uma escola pobre para os pobres, os professores e professoras paulistas não tem compromisso nenhum.
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