domingo, 6 de março de 2011

O lento retorno das águas claras





Paraitinga, derivado do tupi, significa águas claras, e a notícia de que marchas de carnaval ocupam a atmosfera daquela porção dos mares de morro é um alento. Após a invasão destruidora que acometeu aquele pequeno sítio urbano pelas águas turvas do verão de 2010, as perspectivas não eramm nada promissoras. Cidade tombada pelo que representa histórica e culturalmente, viu desmoronar a maior parte de suas edificações em meio a inundação provocada pela insanidade devastadora de uma economia predatória. Agora, sua população tenta cicatrizar as feridas e retomar seu cotidiano, resgatando através da cultura o que for possível ser resgatado.
Sabe-se que boa parte dos registros e documentos que atestavam a preciosidade do que ali se concentrava, foi-se com a inundação e, o papel da oralidade, da tradicionalidade de sua população, é e será fundamental para amenizar tais perdas. O retorno da atividade carnavalesca, assim como das festas regionais características de São Luis do Paraitinga, têm importância capital para isso.
No entanto, as causas da tragédia, para sua superação, dependem de ações de políticas públicas, assim como a reconstituição física do patrimônio perdido. Sabemos dos índices pluviométricos que caracterizam a região. Aziz Ab Saber, filho do lugar, chama a atenção para o caráter cíclico da quantidade de água que lá cai, e que é aumentado em determinados momentos da história climática do Vale do Paraíba. Sua avaliação do regime de chuvas alia a consistência científica, peculiar a todos os seus trabalhos como grande geógrafo que é, ao conhecimento de quem lá cresceu. Portanto, não podemos alegar ignorância dos fatos do clima local, e muito menos debitar à intensidade da água caída a causa pelo que é de responsabilidade do homem.
Políticas públicas que ampliem o território destinado à recuperação da mata atlântica em todo o Vale do rio Paraíba devem ser levadas a efeito. O plantio de café com técnicas obsoletas no século XVIII e XIX, sucedido por pastagens, após o empobrecimento do solo, deve ser superado com a recuperação da mata nativa, principalmente nas cabeceiras e margens dos cursos d´água. O Estado não pode submeter-se aos interesses imediatos dos produtores como historicamente o fez.
Mas, como temos dito em outros artigos aqui postados, não se espera do poder público uma ação nesse sentido que não seja provocada pela pressão
da sociedade civil. Principalmente em se tratando de São Paulo, onde os governos que se sucedem têm interesses diametralmente opostos aos da maioria da população.

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